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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Egressos da UnG resgatam a história de Guarulhos

Através de um trabalho interdisciplinar, envolvendo historiadores, geógrafos e arqueólogos, Movimento Guarulhos Tem História leva até a sociedade a memória do município
Portal UnG (02/12/2008) – “História se faz a partir da diversidade de muitos olhares; sob a interpretação de quem vê, da forma como conta e sobre o que conta.” É com base nessa teoria que o Movimento Guarulhos Tem História desenvolve pesquisas com o intuito de resgatar a memória do município paulista, que no dia 8 de dezembro comemorou 448 anos.

Em atividade desde 2005, o grupo é hoje composto por cerca de 20 pessoas de diferentes áreas do conhecimento: historiadores, geógrafos e arqueólogos são alguns deles. “Começamos somente com historiadores, depois, à medida que se apresentaram as necessidades, fomos agregando outros especialistas, muitos da própria Universidade Guarulhos”, salienta o historiador Elmi Omar, que foi um dos que encabeçaram a organização do Movimento quando ainda era estudante de História da UnG. “Nossa intenção era propor uma história mais atuante, aproximá-la das pessoas”, complementou.

Entre os colaboradores do grupo estão o coordenador e o técnico do Laboratório de Geoprocessamento da Universidade, prof. dr. Antonio Manoel Oliveira e Willian de Queiroz (respectivamente) e os docentes Márcio Roberto de Andrade e Sandra Emi Sato.

De acordo com Omar, o Movimento desenvolve ações orquestradas pelas vertentes educação, cultura e pesquisa. No que tange à primeira e à segunda, o grupo já ministrou cursos de extensão sobre a história guarulhense para mais de 500 pessoas entre professores da rede pública e particular de ensino, estudantes e representantes de entidades de classe.

Em relação à segunda vertente, o Movimento Guarulhos Tem História encabeçou dois levantamentos de fundamental importância para o resgate histórico do município.

Em 2006, integrantes do grupo reencontraram e divulgaram com maior ênfase uma parede de taipa de pilão no bairro de Lavras (esse muro já havia sido encontrado – NORONHA, 1960, pp. 32-42), numa área de proteção ambiental vizinha ao Seminário Diocesano Imaculada Conceição. Características do século 16, as construções de taipa de pilão (barro socado) são fragmentos importantes do período de extração de ouro no País. Em Guarulhos, o bairro de Lavras – que leva esta denominação justamente pela relação com a mineração – apresenta achados que recontam a história do município, instigando pesquisas e investigações. Acredita-se que o ciclo do ouro na cidade começou em 1597 e durou cerca de 250 anos. De acordo com Elmi, os índios e, posteriormente, os negros trabalharam como escravos na extração do ouro. “Essa foi uma importante descoberta, a primeira com base científica, pois constatamos a presença de sítios arqueológicos da mineração”, relata o historiador, que está prestes a ingressar no mestrado em Arqueologia na USP graças ao tema.

Elmi também cursou especialização em História na UnG e tinha como tema de pesquisa a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e suas irmandades, criada no século XVIII porque havia restrições à presença de negros nas igrejas dos brancos. Coincidência ou não, em março deste ano, durante as escavações promovidas na rua Dom Pedro II, dentro da primeira etapa do Projeto de Revitalização do Centro Histórico de Guarulhos, foram descobertos indícios do que poderia ser a base da estrutura da antiga igreja.
Os integrantes do Movimento foram rapidamente chamados pela Prefeitura de Guarulhos para, junto com especialistas contratados pela empreiteira responsável pelas obras, averiguar os vestígios. “Embora o relatório ainda não tenha sido divulgado – a previsão é de que isso ocorra até o fim deste ano –, os levantamentos nos mostraram que os achados pertenciam a um velho casarão, não a igreja. Mesmo assim, valeu o esforço. Conseguimos mostrar mais uma vez que Guarulhos tem uma grande e importante história”, disse Elmi.

Livros – O bom trabalho desenvolvido pelo Movimento vem aos poucos se materializando. Através das divulgações do portal do grupo (www.guarulhostemhistoria.com.br), a editora Noovha América se interessou por publicar um livro que mostrasse os primeiros resultados desse resgate histórico proposto pelo grupo. Em 2007, a obra Guarulhos, Espaço de Muitos Povos veio ao mundo. “A editora trabalhou com a Lei Rouanet e deu vida a um dos primeiros livros paradidáticos que aborda a história de Guarulhos”, contou Elmi.

No dia 8 de dezembro, data em que é comemorado o aniversário de Guarulhos, o Movimento lançou sua segunda obra: Guarulhos Tem História; Questões Sobre História Natural, Social e Cultural (editora Ananda, 202 p.), financiada pelo Funcultura. De acordo com Elmi, o livro é dividido por seções, e cada qual é composta por artigo de grandes especialistas, entre os quais docentes da UnG. O historiador, formado pela Universidade, é responsável pela organização da obra – o que levou quase dois anos – e por dois artigos que a compõem, entre os quais o que evidencia o processo histórico da transformação da antiga fábrica da Phillips na Unidade Guarulhos-Dutra da UnG. “Distribuimos 200 livros no lançamento e, posteriormente, enviaremos exemplares para as bibliotecas da cidade. As pessoas precisam ter acesso à história do meio onde vivem”, afirma Omar.

Um dos objetivos do Movimento Guarulhos Tem História é justamente elaborar e publicar estudos que fazem a relação entre história local e história geral, para que haja a introdução do ensino de história local no calendário escolar, além de outras disciplinas.

A iniciativa vai ao encontro do Projeto de Lei 3096/08, do deputado Ricardo Izar (PTB-SP), que está em tramitação na Câmara dos Deputados. Se aprovado, o projeto tornará obrigatório em pelo menos um ano, a partir da quinta série do ensino fundamental, o estudo da história estadual e municipal, na parte diversificada do currículo. O texto muda o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB - Lei 9394/96). Sujeito a análise em caráter conclusivo, o projeto será votado pelas comissões de Educação e Cultura; de Constituição e Justiça e de Cidadania da casa. “Se aprovado, estaremos prontos para ensinar a história de Guarulhos para os professores”, finaliza Elmi.
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